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A (des)valorização da escrita literária no Brasil

  • Foto do escritor: editoratypus
    editoratypus
  • 7 de mai.
  • 2 min de leitura


Falar sobre literatura no Brasil é, muitas vezes, falar sobre resistência. Em um país onde livros são frequentemente tratados como artigos de luxo e onde o acesso à leitura ainda é desigual, a escrita literária enfrenta um paradoxo constante: é celebrada como arte, mas desvalorizada como trabalho.


Escrever um livro exige tempo, estudo, sensibilidade, dedicação. Exige, também, esforço emocional, disposição para a solidão e habilidade para lidar com frustração. Ainda assim, é comum que escritores ouçam frases como “mas você só escreve?” ou “qual é sua profissão mesmo?”. A escrita, quando não vem acompanhada de notoriedade ou retorno financeiro, é tratada como passatempo. E isso mina, dia após dia, a legitimidade de quem escolheu a literatura como ofício.


A desvalorização da escrita não é apenas simbólica — ela é estrutural. Poucos editais de fomento reconhecem a escrita literária como um trabalho que precisa ser remunerado desde a etapa de criação. Os cachês em eventos, quando existem, são baixos. A maior parte das editoras não oferece adiantamento. E a média de vendas de livros por autor independente ainda é bastante tímida.


Para agravar, a distribuição desigual dos holofotes faz com que sempre os mesmos nomes sejam celebrados, enquanto autores novos, especialmente os periféricos, negros, LGBTQIAPN+ ou fora do eixo Rio-São Paulo, encontram ainda mais barreiras para legitimar seu trabalho. Essa invisibilidade reforça a ideia de que escrever é apenas um hobby — algo que se faz “por amor” e, por isso, não deveria esperar retorno.


Mas a escrita é trabalho criativo — e precisa ser tratada como tal. E isso começa com mudanças culturais, sim, mas também com políticas públicas, incentivo à leitura nas escolas, valorização das bibliotecas, remuneração justa em feiras e debates. Quando a literatura é reconhecida como parte da economia criativa, ela se fortalece não apenas como expressão artística, mas como setor produtivo.


A valorização da escrita começa na base: no respeito pelo tempo do autor, no pagamento por serviços literários, na compra de livros independentes, no compartilhamento de textos de novos escritores. Cada ação conta. E mais do que tudo: reconhecer que escrever, no Brasil, é um gesto político. Porque diante de tantas adversidades, continuar escrevendo é um ato de coragem — e de esperança.

 
 
 

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