Escrever é um ato de teimosia (e de esperança)
- editoratypus
- 11 de mai.
- 2 min de leitura

Num mundo que grita, acelera e exige produtividade constante, parar para escrever pode parecer uma extravagância. Ainda mais quando a escrita não é requisitada por prazos, não dá retorno imediato, e se desenrola em silêncio. Mas escrever é, talvez, uma das formas mais potentes de teimosia que existem.
Porque é teimosia insistir em contar histórias quando tantos dizem que ninguém mais lê. É teimosia construir frases em um mundo que desvaloriza a pausa, o detalhe, o ritmo. É teimosia acreditar que uma narrativa pode fazer alguém se emocionar, refletir, transformar. E é também esperança. Porque só escreve quem acredita, mesmo que secretamente, que o mundo pode ser diferente depois da leitura de um livro.
Escrever é resistir à lógica da pressa. É confiar no tempo da construção. É aceitar que as palavras não nascem prontas — e que a dúvida é parte do processo. É sentar-se diante da página em branco e dizer: “ainda tenho algo a dizer”. Isso, em si, já é um gesto radical.
E quando tudo parece incerto, quando as respostas não vêm, quando o texto emperra, a escrita segue sendo refúgio. Um espaço onde é possível reorganizar o caos, dar nome ao que dói, inventar novos começos. É um gesto profundamente íntimo — e, ao mesmo tempo, profundamente coletivo. Porque mesmo quando escrevemos sozinhos, carregamos vozes, memórias, histórias que vieram antes.
Não importa se você está no primeiro livro, no décimo ou no rascunho de sempre: se você escreve, você está resistindo. Você está dizendo, a cada linha: “isso importa”. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que leve anos. Mesmo que pareça pouco.
Escrever é teimar na palavra — e isso já basta para seguir.
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