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O que é haikai? Conheça o poema japonês que encanta pela simplicidade

  • Foto do escritor: editoratypus
    editoratypus
  • 31 de mai.
  • 3 min de leitura


Mesmo quem nunca se aprofundou na literatura japonesa provavelmente já ouviu falar em haikai, mesmo que de forma superficial. Trata-se de uma das formas poéticas mais conhecidas e difundidas no mundo, especialmente por sua brevidade, lirismo e pela forma como valoriza a simplicidade do instante. Em tempos de correria, excesso de estímulos e necessidade constante de produzir muito com pouco, o haikai volta a ganhar atenção — inclusive de quem escreve, edita ou publica.


Mas afinal, o que é haikai? Como surgiu essa forma tão específica de poema, e o que faz dela tão marcante e reconhecível, mesmo após séculos de existência?


Origem e tradição do haikai japonês


A palavra "haikai" (ou haiku, na romanização inglesa) vem da expressão japonesa haikai no renga, uma forma de poesia colaborativa que era popular no Japão feudal. Com o tempo, essa estrutura evoluiu para o que hoje conhecemos como haikai: um poema curto de três versos, com 5, 7 e 5 sílabas poéticas respectivamente (o que totaliza 17 sílabas ao todo).


O haikai tradicional japonês costuma ter como tema a natureza, as estações do ano, cenas do cotidiano e observações sutis do mundo, sempre com um olhar contemplativo. Há uma busca por capturar a essência de um momento, um sentimento fugaz ou uma imagem marcante — como uma fotografia literária.


Um dos nomes mais importantes dessa tradição é Matsuo Bashō (1644–1694), considerado o mestre do haikai clássico. Seus poemas revelam uma sensibilidade estética apurada, com forte ligação ao zen-budismo e à impermanência da vida. Um exemplo famoso:

Um velho tanque: o som da água de uma rã que salta.

Haikai no Brasil e adaptações ocidentais


Com o passar dos séculos, o haikai atravessou oceanos e culturas, chegando ao Ocidente com adaptações importantes. Em muitos países, inclusive no Brasil, o formato 5-7-5 foi mantido como referência, mas nem sempre seguido à risca. Além disso, os temas também se expandiram: passou-se a abordar questões existenciais, críticas sociais, sentimentos pessoais e experiências urbanas.


No Brasil, o haikai encontrou abrigo principalmente entre modernistas e haicaístas influenciados por culturas orientais. Escritores como Guilherme de Almeida, Paulo Leminski e Millôr Fernandes experimentaram com a forma, dando a ela tons bem brasileiros — ora líricos, ora irônicos.


Veja um exemplo de Paulo Leminski:

isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é

Embora fuja do tema da natureza, o poema mantém a concisão e a profundidade reflexiva características do haikai.


Estrutura, forma e estilo


Embora o modelo silábico (5-7-5) seja o mais tradicional, o haikai contemporâneo não se prende rigidamente a essa contagem. Muitos autores preferem respeitar a essência do haikai — brevidade, objetividade, lirismo — do que se fixar na forma.


Outros elementos importantes do haikai incluem:


  • Kigo: uma palavra que indica a estação do ano (muito comum no haikai clássico);

  • Kireji: uma pausa ou corte na estrutura, que cria tensão ou transição (usada no japonês original, mas adaptada com pontuação ou espaço em línguas ocidentais);

  • Sutileza: haikais raramente explicam ou concluem, apenas sugerem;

  • Impressão visual: o poema evoca imagens claras e concretas com pouquíssimas palavras.


Por que o haikai ainda encanta?


Parte do fascínio do haikai está em sua aparente simplicidade. Em um espaço de poucas palavras, ele é capaz de condensar um universo inteiro — uma imagem, um pensamento, uma emoção. Para quem escreve, é um exercício de síntese e atenção; para quem lê, é uma chance de pausa e contemplação em meio ao caos.


Além disso, o haikai é acessível. Não exige rimas elaboradas, longas narrativas ou conhecimento técnico avançado. Com apenas 17 sílabas, qualquer pessoa pode experimentar criar, refletir, brincar com palavras e observar o mundo com outros olhos.


Haikai e o mercado editorial


Nos últimos anos, editoras independentes e autores autônomos têm se voltado ao haikai como formato de publicação. Pequenos livros, zines e coletâneas digitais têm dado visibilidade a poetas contemporâneos que se inspiram na tradição oriental. O haikai também tem sido usado como ferramenta educativa, terapêutica e artística.


Publicar haikais pode ser uma forma de construir um portfólio, alcançar leitores rapidamente (graças à leitura veloz) e explorar formatos criativos no design editorial. Em tempos de redes sociais, o haikai também se adapta bem ao Instagram, Twitter ou LinkedIn, devido ao seu formato curto e compartilhável.


Mais do que uma forma poética, o haikai é uma filosofia de olhar. Escrever haikais nos convida a desacelerar, a perceber o invisível, a enxergar beleza nos detalhes. Sua força está no silêncio entre as palavras, na imagem que permanece mesmo depois que o poema termina. Para escritores, editores e leitores, o haikai continua sendo um convite à delicadeza — e, por isso mesmo, tão necessário.


Se você ainda não experimentou escrever um haikai, que tal tentar agora? Observe o que está ao seu redor. Talvez o próximo grande poema esteja esperando dentro de uma xícara de chá, de um céu nublado ou de um instante que você quase deixou passar.

 
 
 

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